Por Magele Valdo
A maternidade não é tarefa fácil. De repente, aquela mulher que se achava poderosa, profissional exemplar, responsável por decisões importantíssimas se sente insegura para decidir se medica ou não uma febre, se leva no pediatra homeopata ou no alopata quando está doente, se dá uma bronca ou um abraço quando a criança desobedece e cai do banquinho que não deveria ter subido. Em momentos assim, nos sentimos sozinhas e, muitas vezes, impotentes.
E, como se isso não bastasse, experimentamos, ao mesmo tempo, outros sentimentos completamente opostos. Nos sentimos fortes como leoas defendendo nossa cria, sobrevivemos bravamente a centenas de noites sem dormir, experimentamos uma felicidade inexplicável ao presenciar um simples sorriso.
Vivemos essa polaridade de sentimentos e sensações. E é com esse vulcão interno que muitas de nós tenta voltar a investir no papel profissional como se nada de diferente estivesse acontecendo. Na minha opinião, é aí que está o erro.
A sociedade tenta nos fazer acreditar que dá para separar a mulher profissional desta nova mulher, agora mãe. E não dá. Nosso corpo, nossa mente, nossas emoções, nossa alma, tudo está integrado. E precisamos nos reinventar profissionalmente após a maternidade, ou após qualquer outra experiência transformadora que vivemos.
Mas ainda se fala muito pouco sobre isso. Encontramos dicas sobre enxoval, amamentação e introdução alimentar. Sobre como brincar e o que fazer quando a criança faz birra. Sobre adaptação escolar e como voltar à forma depois da maternidade. Mas quase nada sobre os desafios de conciliar, de fato, maternidade e carreira.
Por isso, quando eu voltei da minha licença maternidade, procurei ouvir outras experiências, saber como diferentes mulheres lidam com essas questões, como se reinventaram nesta nova fase.
Assim eu me reinventei também. Não chutei o balde, não abri mão dos meus sonhos, mas também não fiquei achando que tudo ia seguir do ponto em que tinha parado. Tive que fazer escolhas e assumir riscos. No começo foi muito difícil escrever o meu caminho, mas hojeolho satisfeita com as escolhas que fiz e com o que consegui. Então, fico à vontade para compartilhar algumas dicas que serviram para mim. Quem sabe elas ajudem você que está passando por esta fase também:
- Não fique sozinha, remoendo suas dúvidas e sentimentos. Procure informação, conheça diferentes experiências e compartilhe as suas experiências com outras mulheres que estão passando por esta mesma situação.
- Forme uma rede de apoio no local de trabalho. Não espere compreensão de todos os que trabalham com você. Reconheça quem está mais próximo de entender e ajudar você e se aproxime, pedindo um colo, quando precisar. Geralmente outras mães com filhos de idades próximas passam por situações semelhantes e são as melhores companhias nessas horas.
- Reconheça que agora você é uma pessoa diferente, dê valor ao que melhorou e não dê tanta ênfase para o que piorou. A memória foi embora? Tudo bem, isso acontece mesmo, mas será que você não ficou mais focada e produtiva em seu horário de trabalho? Talvez mais empática com os outros ou, quem sabe, mais intuitiva para algumas decisões?
- Não escolha “família” ou “carreira”. Se os dois forem importantes para você, fique com os dois. Conheça os seus direitos para poder reivindicá-los se necessário e busque soluções criativas para driblar os desafios que você, assim como eu, vai encontrar.
- Acredite que é possível encontrar novos caminhos se você se fortalecer, investir em você, em seu desenvolvimento integrado, isto é, considerando a conexão entre seu corpo, sua mente, suas emoções, suas relações e um novo propósito para a sua vida. Isso vai te fortalecer para superar seus desafios!
Assim como todas as mudanças importantes na vida, a maternidade nos modifica por inteiro, em todos os nossos papéis. Permita-se identificar a nova mulher que nasce junto com a mãe e, com isso, a nova profissional também.
E você, que desafios está vivendo em seu papel profissional depois de se tornar mãe? Tem dicas para compartilhar?
Magele é formada em Psicologia e pós-graduada em Psicologia do Desenvolvimento e em Psicodrama com especialização em Sócio Psicodrama e Ciências Comportamentais. Possui experiência de 12 anos em orientação de carreira e psicologia organizacional. No Grupo Bridge, ela é gestora do X.five (frente voltada ao desenvolvimento individual), especialista em inovação e líder da Incubadora. Responsável pelo desenvolvimento de novos negócios inovadores e escalonáveis. É reconhecida pelos colegas por seu perfil iconoclasta, aquela com habilidade de romper paradigmas, criar e fazer diferente sempre, e por sua capacidade de aprofundar e dar consistência conceitual às ciências do desenvolvimento humano.
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